sábado, 3 de outubro de 2009

Equilibrista.

É tão bonito ela aprendendo
andar pela beirada da vida que só vendo.
Ela anda devagar.
Tropeça e volta:
Tem como consertar?
Faz de novo.
Faz certo.
Desculpe,
ela está aprendendo se equilibrar.
Mas, olha lá!
É bonito, pare para reparar!
Lá vai ela mais uma vez.
"Na corda bamba, de sombrinha..."
Que bonito que é.
Ops! Desculpe de novo...
Tem como não errar?
Foi um passo leve,
um passo em falso...
E ela volta,
pisa firme no chão que já conhece.
Não teme mais o desconhecido
Porque este já não o é mais.
E fica tão bonito ela aprendendo
Tão bonito que só vendo...
ali ela não erra mais.
.
Amor

Vamos brincar, amor? vamos jogar peteca
Vamos atrapalhar os outros, amor, vamos sair correndo
Vamos subir no elevador, vamos sofrer calmamente e sem precipitação?
Vamos sofrer, amor? males da alma, perigos
Dores de má fama íntimas como as chagas de Cristo
Vamos, amor? vamos tomar porre de absinto
Vamos tomar porre de coisa bem esquisita, vamos
Fingir que hoje é domingo, vamos ver
O afogado na praia, vamos correr atrás do batalhão?
Vamos, amor, tomar thé na Cavé com madame Sevignée
Vamos roubar laranja, falar nome, vamos inventar
Vamos criar beijo novo, carinho novo, vamos visitar N. S. do Parto?
Vamos, amor? Vamos nos persuadir imensamente dos acontecimentos
Vamos fazer neném dormir, botar ele no urinol
Vamos, amor?
Porque excessivamente grave é a Vida.
.
(Vinícius de Moraes)

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