segunda-feira, 22 de março de 2010

À ode das lavadeiras do Cachoeira


Por que eu cantaria para o Rio Cachoeira?
E o seu calor fétido que abraça a cidade
impregnando ruas, becos e ladeiras.
Quantos lamentos já foram enxaguados nas suas beiras?
Tens história, Cachoeira.
Para onde vão as almas dos corpos que desovam em ti?
Se for verdade que rio tem voz, a tua é rouca,
pois há muito grita, há muito sufoca.
O que fizeram de ti, Cachoeira?
Vezes posa como um barão,
acompanhado de mil baronesas.
Todo cheio de si.
Vezes some com os fiapos de água
que se tapeiam com as pedras,
tal como os meninos das ruas daqui.
Como ter outra impressão, Cachoeira?
Já te conheci assim.
Eu posso chorar pelo rio que ainda enfeita a velha Tabocas.
Posso lamentar dos bêbados e crianças que se afogam em ti
e posso ouvir os teus lamentos.
Mas não posso glorificar-te, Cachoeira.
Não consigo admirar teu cais,
onde o caos fala mais alto, grita , toma tudo ao redor
e chega a mim molhando-me os pés.
Choro sim por ti.
Que leve as minhas lágrimas para perto das tuas lavadeiras.
As mesmas que enxaguam os lamentos.
Só essas sabem cantar para o velho Cachoeira.

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