terça-feira, 10 de junho de 2014

salvador, 10 de Junho

quem viu o vento que me tomou pela mão?
meu vestido feito de asa de borboleta, frágil, frágil...
que no bater das pálpebras, feriu o amor.
mas, amor?
desde então, é a constelação da manhã que me acariciaria os olhos.
eu não soube ver a cara do vento.
me colocou na varanda, embalada na rede cor de coração.
adivinhou o sonho no meio da tempestade.
mas esse sorriso entre tantas estrelas...
ora, meu bem, foi o vento que disse:
- amor se reconhece.

domingo, 22 de julho de 2012

No sapatinho.



Na boca dos amantes existe o desejo
ora mútuo, ora disperso. 
Deveria haver um acordo das partes que alimente o querer, 
mas o que vibra é um jogo desnecessário e sem graça. 
No jogo dos amantes, eu viro o tabuleiro 
e me mando para uma roda de samba particular, 
roda de gente grande
onde o único jogo é sambar.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Passeio pela tarde de Poções-BA.



Acabei de chegar de um passeio de bicicleta pelas ruas onde dei as minhas primeiras pedaladas.
Passei por casas onde já morei, fotografei a rua que algumas vezes sonhei.
Resgatei lembranças que haviam ficado vagando nessas ruas por anos.
Em alguns rostos reconheci feições já envelhecidas - aqui as pessoas me chamam apenas de Mila, o que me deixa à vontade e me soa como música de duas notas.
Na praça onde aprendi a andar de bicicleta soltei as mãos em alta velocidade, só para deixar claro que podemos sempre evoluir.
O vento gelado abraçou a minha pele forma acolhedora, mas dessa vez não senti frio, senti cócegas nos cílios. Foi bom.
Fui turista na cidade onde eu nasci. Amei cada tijolo de cada casa. O colorido dos grafites atraiu a todo instante o meu olhar.
E quando parei pra registrar meu reflexo, um doido simpático disse assim "tira d'eu". E foi sorrisos para lá e para cá. Cliquei e ele saiu satisfeito.
Voltei para casa de tia Rosita, casa que também já morei. Lembrei de algo que li mais cedo e ficou preso em minha cabeça “a memória é um conceito espiritual” (Andrei Tarkovski – cineasta russo).  Adubei as minhas raízes, como quem faz um afago. 



terça-feira, 5 de junho de 2012

Passarinhando



Eu sonho acordada passarinhos. Tem sorrisos morando no pé carregado de jabuticabas.
E ai de quem ousar mexer nos mamões deles. Quando cai o aguaceiro, dezenas de periquitos que pensam que são nuvens danam a trovoar. E se o assovio soa mais forte, é de correr mais depressa que há novidade para se mostrar. Com tanto pólen no bico, logo se vê que passou toda tarde mergulhado em flores. Muito bonito! E tudo é música. E festa. Música que sabe voar na dança dos passarinhos.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Escolhas


Ganhei um livro, mas estava em falta. Ganhei o crédito para buscá-lo quando chegasse. Não chegou. Esperei, pois o livro foi bem indicado pelo tio que me presenteou. Mas não chegou.
Com o crédito que tinha nas mãos, decidi substituir por outro. Cheguei procurando um, mas queria outro, e apareceu mais outro, mas eu só podia levar um. E por eliminação restou um de técnica fotográfica e outro de poesia. 
Me vi dividida, como se tivesse de escolher entre dois amores. 
De cara, pensei na fotografia... folheei, paquerei, quase levei. Mas a poesia foi quem chegou primeiro na minha vida. Há poesia na fotografia. Peguei "Poesia Completa", do Manoel de Barros, como quem pede a opinião de um poeta. Abri em qualquer página e ele me disse assim:

O  Fotógrafo

Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada a minha aldeia estava morta.
Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã.
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim num beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada mais na existência do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Vi um paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre.
Por fim cheguei a Nuvem de calça.
Representou pra mim que ela andava na aldeia de braços com Maiakovski – seu criador.
Fotografei a Nuvem de calça e o poeta.
Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa mais justa para cobrir sua noiva.
A foto saiu legal.



- Levei a poesia.

quarta-feira, 14 de março de 2012

para o dia da poesia, que para mim é todo dia.


A poesia não tem dia,
nem tem hora, é só acaso.
Seja fato, sonho ou fantasia,
com ela, todo dia eu me caso.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

grito


O ócio desagrada
O tédio se agrava
A mente já não grava
Meu tempo é grave
É nó de gravata apertado
É graveto encravado
Nem frase, nem prosa
Nem rosa, nem cravo
Tão só gravidade
Meu tempo é grave.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011





Eu não tenho quintal em casa,
mas da varanda que ainda é um pouco minha,
gosto de ficar vendo nuvens bailando,
estrelas rodopiando,
é o mundo girando
e que alegria isso me dá.
Sinais de que passo pelo tempo
onde o vento até na foto
deixa sinal de movimento.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

des(tino), razão perdida.




Quanto mais tempo passa,
mais improvável imagino o futuro.
Furo na lua amarela, esvaziaria ela?
Já aprendi que destino
é desculpa romântica que por mistério alguém criou,
mas devo dizer que não sou bem a mapeadora do meu caminho.
Meu norte é meu coração.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Clarão

ESTRELA ESTRELA,
que em qualquer direção brilha,
como quem grita:
ALERT-SE! ALERT-SE!